A origem veio da Equipe VIVA MONTESA, nome dados pelos seus componentes que eram fãs das Motesas 360 H6. vários nomes conhecidos como: Márcio Torres, Robertão, Giannetti, Italo Bernardi, Chico Campeão, Lulu Perdigão, Toninho Zé Caixão, Totó Corpore, Kiko, Cláudio Lamega e Fred Grimaldi.
O grupo de dissidentes do Trail Clube Minas Gerais (TCMG), o Clube de Enduro Mineiro surgiu para manter viva a prática pura e apaixonada do trail.
Com provas icônicas como o Enduro das Montanhas, Enduro da Lua Cheia, Enduro Noturno e Enduro de Velocidade o CEM construiu sua história sobre amizade, simplicidade e amor pelo fora-de-estrada.
Fonte Revista Motoshow – Junho 1983 – Nº 4
A Largada
— Faltam 10 segundos… 5… 4… 3… 2… 1… Já!
A moto salta à frente. Os curiosos abrem caminho e a primeira dupla concorrente dispara naquela que seria a prova mais insana já realizada em Minas Gerais. Começa o primeiro minuto de navegação do 2º Enduro Noturno — o lendário Enduro do Galope Rasante da Lua Minguante.
Loucos por Trilhas
Os participantes — verdadeiros “loucos por trilhas” — fazem parte do tradicional Trail Clube de Minas Gerais, uma turma que já organiza provas desafiadoras há anos e coleciona aprendizados em trilhas de todo tipo. Tudo é feito com paixão e atenção aos detalhes, sempre buscando elevar o nível da experiência.
No ano anterior, a prova chamada “As Mil Noites de Bárbara” foi um sucesso. Mas, desta vez, o desafio foi ainda maior: mais de 400 km, com um roteiro completamente desconhecido. Ninguém sabia de antemão quais estradas ou trilhas seriam seguidas. Sim, os mineiros tinham vantagem — alguns conheciam quase todas as trilhas ao redor de Belo Horizonte — mas grande parte do trajeto era inédito até mesmo para os enduristas mais experientes da região.
Navegar no Escuro
Para garantir maior segurança, a prova foi feita em duplas. Um piloto era responsável por seguir a rota indicada na planilha de navegação, e o outro controlava as médias de velocidade, conforme outra planilha. A ideia era manter a moto na marcha correta para cada trecho do percurso.
Na prática, nem sempre funcionou assim. Muitas duplas enfrentaram dificuldades:
O piloto que deveria seguir o roteiro perdia a planilha;
Como a planilha de médias também trazia indicações de rota, um único piloto acabava navegando e roteirando;
Em algumas duplas, um piloto experiente se unia a outro apenas como apoio técnico, carregando ferramentas, câmara de ar e itens para pequenos consertos.
As planilhas de papel, quando não protegidas com plástico, molhavam, rasgavam com o vento ou simplesmente viravam lama nas mãos suadas e sujas dos pilotos.
15 Horas na Trilha
A prova começou às 18h do sábado e terminou às 08h59 do domingo: 15 horas sobre uma moto, usando botas, luvas, capacete, cinta abdominal, protetor peitoral, agasalhos e, em alguns casos, até óculos de grau — como no caso do Beta e do Ayres, que tiveram mais dificuldade em função disso.
A noite foi longa e variada: descida de trilhas, atravessia de barreiras, subidas íngremes, como o temido morro Olimpo — um trecho pedregoso com média imposta de 36 km/h (!). Além disso, houve travessias de riachos, trechos para “tomar chocolate quente” em PCs (Postos de Controle de Média) e troca de informações com outras duplas — algumas à frente, outras atrás.
Terrenos e Temperos
Foram muitos os tipos de terreno utilizados:
Estradões de terra batida e poeirenta;
Morros pedregosos e erosões;
Barrocas e trilhas técnicas;
Estradas malconservadas ou completamente abandonadas.
Manter as médias exigidas era um desafio. Em alguns trechos, era difícil manter a média mínima de 24 km/h. Em outros, andar devagar demais era tortura — por exemplo, manter 12 km/h numa trilha exigia queimar embreagem e manter rotação alta. Era um exercício de paciência e controle.
Preparação: A Chave do Sucesso
Metade do enduro se resolve antes da largada. A preparação das motos, organização das pranchetas de navegação e a escolha dos equipamentos fazem toda a diferença. Afinal, são 15 horas rodando nas piores condições possíveis, tempo suficiente para surgirem defeitos em peças gastas, falhas elétricas, lâmpadas queimadas, relês pifando…
Nossa Largada
Eu e meu parceiro Augusto (número 66), de Belo Horizonte, largamos no minuto 279, já depois das 18h. Tudo certo, exceto por um detalhe: o odômetro não funcionava. O velocímetro até ia bem, mas o odômetro estava morto. Na última hora, o Lima — um piloto veterano que não participou da prova — nos emprestou o dele.
Foi um sufoco, mas como dizem os mineiros: “N.F.” — no fim, dá-se um jeitinho e larga-se no tempo!
A Chegada
Na chegada, de volta à Praça do Papa, era só sorriso, cerveja e histórias. Os enduristas belorizontinos, com falsa humildade, respondiam ao estilo Chico Anysio quando perguntados se foram bem:
— “Médio…”
Entre goles de cerveja e cachorros-quentes duvidosos, uma nova novidade corria de boca em boca:
Vem aí o Enduro da Independência — 700 km, realizado em 2 dias, de Paraty a Ouro Preto, com apoio de uma grande emissora de TV.
Pode reservar minha ficha de inscrição. Tô dentro.
Colaboradores destes conteúdo: Daniel Pacheco e Paulo Henrique “FIOTE”
Fonte Revista Moto – Novembro 1983 – Ano 2 – Nº 20 – Reportagem de João Pedro Bara – Fotos de Saulo Mazzoni
“Na Serra do Curral em Belo Horzionte, você vai encontrar as mais incríveis e diferentes trilhas do Brasil.”
MACACOS: O PONTO DE ENCONTRO DOS TRILHEIROS
Não há como falar da cultura off-road em Nova Lima sem mencionar Macacos como ponto de convergência dessa paixão. O distrito se tornou o local de descanso e celebração após um dia intenso de trilhas.
Tradição iniciada nos anos 80, o Restaurante da Dona Dica é parada obrigatória para quem busca repor as energias com um bom feijão tropeiro e uma limonada gelada. Os trilheiros chegam cobertos de poeira, trocando histórias sobre os desafios do dia enquanto planejam a próxima aventura.
O ESPÍRITO OFF-ROAD VIVE EM NOVA LIMA
Mais do que um destino, Macacos é um símbolo da cultura off-road de Minas Gerais. As trilhas da região testemunham a evolução das modalidades fora de estrada: seja as e-bikes e as motos. Mas o espírito continua o mesmo: superação, desafio e companheirismo.
Para quem deseja vivenciar essa tradição, Macacos permanece de braços abertos. Seja para enfrentar os terrenos mais difíceis ou simplesmente sentir o clima de uma comunidade hospitaleira e de excelente tradição da culinária, o “distrito” de Nova Lima continua sendo um dos grandes templos da aventura no Brasil.
Fonte: Revista Moto – Ano II – N.º 20 – Novembro 1983 – Editora Abril
Reportagem de Joao Pedro Bara
Fotos de Saulo Mazzoni
Doação de Adhemar Euclydes
Belo Horizonte, 7 de setembro de 1983
• Duração da prova: 3 dias
• Largada: Rio de Janeiro
• Chegada: BH Shopping – Piso Nova Lima
• Pernoites: Barbacena e Ouro Preto
• Total de inscritos: 440 pilotos
• Campeões: Cat. Única – Roberto Márcio e Helder Rabelo
Responsáveis pelo percurso: Paulo “Fiote”, “Téo” Mascarenhas, Ricardo Guerra, Joãp Quintiliano, Rômulo Rocha e Ricardo Bento Filho.
Em uma iniciativa pioneira, o Trail Clube Minas Gerais (TCMG), liderado por Rômulo “Rominho” Rocha, organizou o I Enduro da Independência. A ideia: recriar, de moto, o percurso histórico feito por D. Pedro I entre Quinta da Boa Vista (RJ) e Ouro Preto (MG), remontando o caminho que ele percorreu em 1822, em plena mobilização pela independência do Brasil
Roteiro: um traçado entre a história e a aventura
Com cerca de 800 km em três dias, a largada ocorreu em 5 de setembro na Quinta da Boa Vista, seguindo por trilhas históricas e pernoites em Barbacena e Ouro Preto, até a chegada em Belo Horizonte, na data simbólica de 7 de setembro
O trajeto seguiu tanto o Caminho Novo (via mais curta usada pela comitiva imperial) quanto trechos da Estrada Real, valorizando fazendas históricas e vilas por onde D. Pedro I passou
Apoio institucional e participação da Rede Globo
O envolvimento da Rede Globo Minas, por meio do então diretor Yves Alves, foi decisivo. A emissora colaborou levantando a ideia do roteiro histórico e atuou de forma estratégica: cartas de apresentação foram emitidas para prefeitos das cidades do percurso, e o exército cedeu alojamentos para pernoites dos pilotos, garantido logística e segurança
Ainda foi desenvolvida a campanha “Adote um treieiro”, em parceria com rádios e jornais, para que moradores oferecessem hospedagem e viabilizassem a participação de pilotos de várias regiões do Brasil
Participantes e estrutura
A primeira edição reuniu aproximadamente 440 pilotos, organizados em 220 duplas. A dupla vencedora, Beto Motorauto e Helder Rabelo, alcançou fama nacional ao aparecer no Jornal Nacional graças à repercussão da Globo
Sem GPS nem tecnologias modernas, os pilotos enfrentaram o trajeto com planilhas, canetas e relógios sincronizados manualmente — uma prova de resistência, habilidade e navegação primitiva, executada com precisão e disciplina
Impacto e legado
O sucesso do evento marcou o pontapé inicial do enduro de regularidade no Brasil, transformando-se em uma competição anual e tornando-se a mais tradicional no país, consolidada em Minas Gerais e valorizada nacionalmente
Desde então, o Enduro da Independência evoluiu técnica e logisticamente, modernizando-se mas mantendo intacto seu espírito cívico, seu vínculo com a história nacional e seu desafio esportivo
Em resumo: o I Enduro da Independência foi mais que uma prova de motociclismo — foi uma reconstrução histórica motorizada, promovida pelo TCMG com apoio estratégico da Rede Globo, atravessando a Estrada Real, povoando o Brasil com história, camaradagem e adrenalina na véspera do feriado cívico. Se desejar, posso complementar com trechos de entrevistas, fotos de arquivo ou comparativos com edições recentes.
Revista Moto – Ano II – Novembro 1983 – Editora Abril – Compartilha por Daniel Pacheco
Reportagem de João Pedro Bara
Fotos de Saulo Mazzoni
Belo Horizonte é a capital do trail no Brasil — isso ninguém discute. Também, poucos lugares desse imenso país foram brindados com trilhas tão copiosas quanto a capital mineira. Afastando-se uns poucos quilômetros dos bairros da zona sul dessa cidade é você já estará percorrendo o inesgotável entrecortado de trilhas, estradas e picadas que formam a Serra do Curral.
De solo pedregoso abrigam uma imensa reserva mineral, as trilhas ao sul em nada se parecem com a maioria das trilhas encontradas em outras regiões do Brasil. O piso é extremamente duro, não há culturas, sítios ou fazendas. Os muitos riachos têm leito de pedras ou se formam em breves e as trilhas se cruzam num complicado emaranhado.
Nossas trilhas do sul se assemelham a uma malha. Elas são inexploráveis. Cada treieiro que descobre um caminho novo lhe dá até um nome curioso, e todo fim de semana tem gente descobrindo trilhas novas — explica Ayres Mascarenhas, vice-presidente do Trail Clube de Minas Gerais.
Mas a mais antiga e clássica trilha ao sul de Belo Horizonte
…é a famosa Perdidas de Macacos (Nova Lima/MG) — com suas duas principais variantes: Desaparecida e Sumida. Essas, e muitas outras rotas, vão desembocar, invariavelmente, no mesmo pequeno lugarejo chamado Macacos. Mais precisamente no Restaurante da Dona Dica — ponto de parada obrigatório de todos os treieiros.
Segundo Ayres, a maioria dos treieiros fazem 60 ou 70% do seu trail, param para saborear a comida caseira e a cerveja gelada da Dona Dica, e depois encerram ali o seu passeio. Essa é uma regra geral, pois muitos terminam mesmo a sua…
A cerveja obrigatória
…jornada nessa simpática paragem. Quem é que consegue prosseguir o seu trail depois do feijão tropeiro, da carne de panela (feitos em fogão a lenha) e da cerveja geladíssima da Dona Dica?
Mas se você se poupar (e não beber todas na Dona Dica), desça a serra e vá curtir o seu fim de tarde num desses dois lugares: Bartolomeu (que não abre aos domingos) ou Torre de Pizza. No primeiro uma picanha fatiada vai ajudá-lo no tira-gosto. No Torre, lógico, você vai de pizza mesmo. Ambos ficam no bairro de Funcionários, que o pessoal de lá chama de Savassi (nome de uma antiga padaria que acabou se transformando no nome popular do bairro).
Para se enturmar com os treieiros, chegue a Belo Horizonte antes do fim de semana. E que na quinta-feira à noite esse pessoal começa a traçar os planos no Torre de Pizza. Antigamente a reunião era no “Posto BR-3”, e só de um ano para cá que mudou o local de encontro.
Caso não dê pra você estar na quinta em Belô, “encoste em algum treieiro e vá em frente”. Esse conselho é do Ayres, e ele garante que os treieiros locais sabem ser cordiais e hospitaleiros.
O pessoal tem o maior prazer em ajudar um companheiro que vem de fora. E nas inúmeras trilhas, onde de 3 a 4 mil pessoas rodam nos fins de semana, vai ser impossível você não cruzar com alguém que lhe dê orientação e referência.
Depois que você estiver em ação, vai notar particularidades interessantíssimas no seu trail mineiro. Além da fantástica paisagem, você vai curtir também o incrível código de comportamento que os…
As trilhas ao norte
…treieiros estabeleceram. Essa vasta sinalização entre os treieiros que se cruzam vai lhe ser de grande valia.
Se de repente você sentir saudades de uma trilha cheia de atoleiros, com simpáticas fazendinhas cultivadas de hortaliças, tome o rumo oposto: siga para o norte da cidade. Lá, tendo como eixo básico a linha de transmissão de força da hidrelétrica de Três Marias, você vai percorrer a trilha de Orphalá e encontrar características menos particulares do que as trilhas do sul. Aí, o piso é macio e basicamente de solo vegetal.
Mas mesmo que sua opção seja o norte — o que os mineiros não aconselham — não deixe de percorrer o lado sul. Nenhum treieiro que se preza pode deixar de conhecer essas curiosas trilhas com seus sugestivos nomes: Olimpo dos Urubus, Bumba meu Boi, Lucélia Santos, Hemo Virtus, Saco Plástico, JT (quando se sobe), TJ (quando se desce), Sufoco do Zorba e tantas outras.
Em tempo: não se esqueça — mesmo — de conhecer o povoado de Macacos.
E depois que você estiver habituado às pedregosas trilhas mineiras, escolha um trecho bem difícil e tente “zerar”! Para quem não sabe, “zerar”, em idioma local, significa cumprir um determinado trecho preestabelecido sem tomar apoio. Ou seja: praticar um trial. Você vai se admirar com o alto nível técnico que os mineiros já desenvolveram no trail — e também nas provas de resistência em longos percursos no fora-de-estrada.
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