O piloto Beto “Motorauto” foi uma figura decisiva no desenvolvimento do off-road no Brasil. Proprietário da concessionária Motorauto Yamaha, em Belo Horizonte (MG), Beto destacou-se não apenas nas trilhas, mas também como um dos grandes incentivadores e patrocinadores de provas e atletas durante as décadas de 1980 e 1990.
Visionário, ele desenvolveu na própria concessionária um kit exclusivo para transformar a Yamaha RX em uma moto adaptada ao uso off-road. Sua atuação à frente da Motorauto, uma das concessionárias com maior volume de vendas do modelo Yamaha DT180 no país, contribuiu diretamente para a popularização do motociclismo de trilha em Minas Gerais e no Brasil.
Como diretor da equipe Shell/Yamaha – os lendários “Tararacas” – Beto também foi responsável por colocar à venda, em sua loja, uma edição especial da DT180, réplica das motos utilizadas pela equipe. O modelo vinha com preparação específica e kits plásticos amarelos produzidos pela Buffalo, empresa do também empresário mineiro Francisco Laender.
O legado de Beto Motorauto e Chico laender permanecem vivos como símbolos de pioneirismo, inovação e paixão pelo off-road.
Este equipamento foi doado por Beto Motorauto – esta exposto no Marco Zero do Ecomuseu do Off-Road.
Como todo mundo já sabia, aconteceu no domingo, dia 16, a prova de Trail “Enduro Ferradura do Cavalo Morto”, que contou com a participação de 66 máquinas. Pintou gente de todas as bandas, desde Itabirito até Santos, passando pela moçada alegre do Rio de Janeiro. Muito agito entre o pessoal que anda em todo o terreno.
Largaram em duas categorias, sendo 30 na Categoria de Graduados e 36 na de Estreantes. Para que vocês sintam toda a mágica reunida numa prova de Trail, nós conseguimos um depoimento de um dos pilotos, pseudônimo de “Noviço Voador”. Prestem atenção:
“FREGUESIA DE MACACOS, 16 DE AGOSTO DE 1981” ou “A UM PASSO DA ETERNIDADE”:
Na subida do “Lair por Baixo” eu cantava/louva “Os Escravos de Jó”, mas na subida do “Lair por Cima” eu me calei. A planilha determinava 20km/h e, na minha melhor performance, após a minha competência, os 360 centímetros cúbicos da Montesa, só havia conseguido 16km/h.
Na descida das Corcovas eu gritei. Nada especial. Uns potentes UUUU e outros UAUUUUUSSS e alguns OOORRR.
“No fim das “Corcovas” mais um PC. Como tinha PC nesta prova!”
Eu estava tão feliz e tão zerado, isto até me fez esquecer o novo regulamento de propor ao pessoal do PC — gente finíssima, competente, com cara de fiscais de linha de chegada — a realização do antigo, lindo e super PINHÉ: saúda-se o fiscal com 1 toque ou belisca as costas das mãos do outro e o outro não pode rir nem se mexer. Se rir ou mexer, perde pontos. Se não rir nem mexer, ganha pontos. É uma bobice que vale a pena ser retomada. Ajuda muito. Eu não sei se aqueles leões estavam na mesma felicidade que eu.
Mas nem todos os trechos do Enduro da Ferradura do Cavalo Morto foram trechos de felicidade assim tão lírica. Na “Mineração”, uma descarga de borra de minério cobriu toda a pista. Eu me atolei. Não chorei não. Tive uma outra alegria, uma espécie de penitência. Trail também é sofrimento. Eu já estava começando a cantar a “Missa Solene” quando surgiu um anjo. Sim, um anjo, e não sei por quê já estava no céu ou se o céu é ou não um Trail eterno?
Por lá passaram outros entes celestiais. Eu vi o padre Miracapito, não o da tevê, mas o reverendo Jones, não o de Jonhatenstown. Por lá passou também São Rubens – o cirurgião de dentes – em seu halo multicolor, São Lair. Isto é Trail.
Bem, um anjo me ajudou a retirar a moto do lamaçal. Era um anjo desconhecido. Dizem que se chamava Zequinha.
“Um fiscal “PC” faz uma checagem na moto. Os trilheiros são acompanhados em todo o percurso da prova”
A partir daí, velocidade máxima. Era preciso tirar o atraso de quase 15 minutos. Concentração total. Um desespero nas rédeas. Corríamos todos. Cada pedra solta, cada pequena valeta, um treco mais unido, uma curva que se aproxima disfarçada, sem profundidade real. Você literalmente voa. Cada trecho te exaure, ou você relaxa, ou precisa descansar, seja por apenas 2 ou 3 segundos, ou você cai. Concentre-se e relaxe. Isto também é Trail.
Chego na “3 JOTAS” quase no tempo. Começo a cantarolar baixinho. É bonita a descida da “3 JOTAS”: é poesia, a saída do rio, logo após o trecho, suplicor poético. É como olhar o mar, ou mais ou menos assim: “sou o mar, sou o mar, sou o mar e o céu.” Relaxado e concentrado, sem pressa e com atenção, sem acelerar freneticamente. Minha hora. Não faço feio. Termo gente demais. Não gosto. Não quero. Avançamos! Conseguimos! Que delícia e agora já era tempo de olhar para o céu e fingir que o céu é Trail.
Engraçado, enquanto lia eu vi cada trecho da matéria, lembrei da subida da Ferradura, lembrei de como estavam os pilotos e de como a subida da pedra da “3 Jotas” foi realmente uma das mais difíceis – talvez a mais quase impossível.
Acervo doado por Paulo Henrique “FIOTE”
Uma Jornada Épica nas Trilhas e Rios de Nova Lima (MG)
No dia 13 de dezembro de 1981, o município de Nova Lima (MG) foi palco de um dos capítulos mais lendários da história do off-road brasileiro: o Enduro Corcovas do Pigmeu D’Ouro. Com seu território recortado por trilhas históricas, serras desafiadoras e rios caudalosos, Nova Lima recebeu 58 pilotos determinados a encarar 150 km de puro barro, aventura e resistência.
A chuva que caiu sem trégua transformou as já exigentes trilhas do Ouro e da Aguinha em um percurso brutal. A cada metro, os competidores enfrentavam erosões, lamaçais e correntezas, em uma prova que rapidamente se tornou uma batalha contra a própria natureza.
Com patrocínio da Motorauto Yamaha, a prova reuniu grandes nomes do motociclismo mineiro e nacional. Após 7 horas de disputa intensa, apenas 45 pilotos cruzaram a linha de chegada – os demais foram vencidos pelos desafios do território. Um episódio marcante e simbólico entrou para a história: o piloto Lulu Perdigão, lendário fundador do Clube de Enduro Mineiro (CEM), foi levado pela correnteza junto com sua moto em um dos trechos alagados da prova. Apesar do susto, o fato se tornou um ícone da bravura e dos riscos enfrentados naquela edição.
Mais do que uma competição, o Enduro Corcovas do Pigmeu D’Ouro foi um rito de passagem. Nova Lima, com sua geografia desafiadora e sua rica tradição ligada às trilhas e ao garimpo, provou ser o berço ideal para uma jornada épica, hoje preservada na memória do esporte e nas trilhas vivas do território.
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“Nas fotos o Kleber Blanco e o João Musa (H6 250), o Carlos “Totó” Magalhães (H6 360) e eu na DT 180, das primeiras a chegar em BHte.” – Paulo Henrique “FIOTE”.
“Essa prova teve o roteiro liberado no ato da inscrição. Apenas as médias nao eram fornecidas. Então os finais de semana sempre estavam treieiros esparramados ao longo do trajeto. A Corcovas, os Laires, a Fazenda Jabuticaba, o Telefone, a própria Trilha do Ouro e a Aguinha. Um diluvio na primeira parte até Macacos e depois já sol na subida da Aguinha. Bons tempos!” – Paulo Henrique “FIOTE”.
“Foi a minha primeira prova! Depois dessa, foram quase 10 anos e mais de 200 outras provas!” – Claudio Figueiredo.
“Opa, esse sou eu ,com a recém chegada Honda XR250, acredito que a primeira moto de Enduro do país , o filtro de ar ficava debaixo do banco , daí ela ter passado e Rio e ganhei essa prova Ótimos tempos , valeu Fiote” – Romulo Rocha.
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Resultados:
1º Francisco José (XICO MOTOJET) – MONTESA 360 – PP 4.113
2º João Carlos Musa – Montesa 250 – PP 4.209
3º André Garcia (Herói) HONDA CG 125 (com mata Dog) – PP4.800
4º Gustavo Silésio Araújo (Tavinho) – HONDA XR200 – PP 5.352
5º Alexandre Misiochaik – MONTESA 360 – 6.707
Categoria B
1º Ayres Mascarenhas (Noviço Voador) – HONDA XR250 – PP 1.643
2º Roberto Mácio Augusto – YAMAHA DT180 – PP 3.317
3º José Alberto (Zezé) – YAMAHA DT180 – PP 4.285
4º Luiz Carlos Lima (Liminha) – YAMAHA DT180 – PP 4.902
5º Érico Oliveira Panisset (Mª Miracapilo) – YAMAHA DT180 – PP 5.083
Categoria C
1º Romulo Rocha – HONDA XR250 – PP 3.995
2º Rogério Fortes (Maravilha) MONTESA 360 – PP 5.321
3º Marcus Torres (Marquinho Anfíbio) MONTESA 360 – PP 6.077
4º Cristiano Paz – HONDA XR250 – PP 6.964
5º Lulu Carlos Perdigão) (Lulu Perdigão) – MONTESA 360 – PP 7.668
Fonte: Diário da Tarde, coluna “Motocando”, Zezito e Cia – 21 de dezembro de 1981.
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