A antiga estrada que ligava Belo Horizonte a São Sebastião das Águas Claras (Macacos) surgiu provavelmente ainda no período colonial, servindo como rota de tropeiros, escoamento da produção agrícola e ligação entre fazendas da região dos ribeirões Mutuca e Macacos. Até meados do século XX, ela foi caminho importante de circulação entre Curral Del Rey (futura BH), Nova Lima e Macacos.
Com a inauguração da BR-3 e da MG-030, em 1957, a estrada entrou em decadência e foi abandonada pelo poder público. Nos anos 1970, foi redescoberta por motoqueiros e praticantes de esportes de aventura, que a batizaram de “Trilha Perdidas” devido ao estado de abandono e às bifurcações que confundiam os usuários.
Hoje, a trilha é símbolo da transformação histórica dos antigos caminhos coloniais, que passaram de rotas de mineração e agricultura a espaços de lazer, identidade cultural e disputa com a especulação imobiliária.
Fonte: Caderno de Geografia (2023) v.33, n.73 ISSN 2318-2962 DOI 10.5752/p.2318-2962.2023v33n73p556 https://l1nq.com/x4y7A
Então o nome correto é “TRILHA PERDIDA” e não “PERDIDAS”.
Alexandre, essa trilha era uma estrada paralela à antiga estrada de Macacos, toda de cascalho, sem marcações. De um lado, um barranco; do outro, um “abismozinho”. Era tão clara que, em noites de festa junina, nem precisava de farol para voltar.
Havia uma estradinha ao lado, conhecida como Trilha dos Mendes. Certa vez entrei nela e me disseram que seguia até uma porteira. A trilha se dividia em bifurcações: uma seguia por dentro da mata e, numa delas, acabei cercado por um boi preto. Fiquei parado mais de uma hora, com medo de levar uma chifrada na Montesa.
Outra saída levava além de Macacos, mas era preciso atravessar várias cercas para retornar ao distrito de São Sebastião de Águas Claras. Assim, a trilha começava antes de São Sebastião e terminava em São João de Águas Claras, passando paralela à estrada.
“Era conhecida como Trilha dos Mendes, mas para nós ficou na memória como a Trilha Perdida”
Em maio de 1975, Minas Gerais viveu um momento histórico para o motociclismo off-road nacional com a realização do Rally das Esmeraldas, a segunda etapa do Campeonato Brasileiro de Rally em Motocicletas. A prova, que partiu da Praça do ABC em Belo Horizonte, percorreu mais de 297 quilômetros de trilhas até Barbacena e retornou à capital, reunindo 29 motos e dezenas de pilotos em um dos percursos mais desafiadores da temporada.
Com patrocínio da Honda e organização de clubes e federações mineiras, o evento foi marcado por técnica, resistência e inovação. Após uma largada noturna e uma neutralização de 660 minutos para descanso e ajustes, os competidores enfrentaram o trecho principal a partir das 7h da manhã, largando em intervalos de um minuto pela BR-040, em direção às montanhas da Zona da Mata.
A disputa foi acirrada, mas quem brilhou mesmo foi a dupla mineira Rodrigo Oliveira e Horst Schupp, pilotando uma Honda 500 Four. Com 400 pontos, eles garantiram o primeiro lugar geral. Em seguida, nomes como Cláudio Soares e Flávio Fonseca, José Luiz Lopes e Zezão Rocha, e Marcos Guimarães e Antônio Alves completaram os cinco primeiros colocados, demonstrando a força e a técnica dos mineiros.
A prova também se destacou pelo uso de tecnologia de navegação e cálculo, algo ainda incipiente na época. A dupla Luiz Otávio Lessa e Aires Mascarenhas, da Equipe Speed Moto, ganhou destaque por utilizar equipamentos de precisão como a tábua Heuer, máquinas de cálculo de curto alcance e calculadoras eletrônicas com memória — ferramentas fundamentais para enfrentar os rigores da navegação em trilhas.
Outros nomes de destaque no cenário mineiro também figuraram entre os favoritos, como Althaysio Santos e Guilherme Pereira, além da dupla Horst Schupp e Rodrigo Otávio, que foram apontados como fortes concorrentes ao título. A competição ainda contou com a participação de equipes paulistas experientes, vindas de tradicionais equipes como a VW Rally e o antigo Pentastar Team da Chrysler.
Além do prestígio, o grande prêmio para os vencedores da categoria de motocicletas era simbólico e desejado: uma motocicleta nova, que representava tanto o valor do feito quanto o incentivo à modalidade, ainda em desenvolvimento no Brasil.
A divulgação dos resultados aconteceu em clima de confraternização, durante um coquetel realizado no Salão Azul do Hotel Rei, onde os organizadores celebraram o sucesso da prova e o fortalecimento do rally como expressão esportiva em Minas Gerais.
O Rally das Esmeraldas de 1975 não foi apenas uma competição: foi um marco no processo de afirmação do motociclismo off-road brasileiro, com protagonismo claro de Nova Lima, Belo Horizonte e Barbacena, e um exemplo de como a técnica, a paixão e a ousadia dos pilotos mineiros ajudaram a moldar a história do rally nacional.
“O curioso dessa prova é que cada moto era conduzida por dois participantes: piloto e navegador. O navegador, na garupa, fixava a planilha de navegação nas costas do piloto, utilizando-o como suporte durante o percurso.”
Neste reuniam-se em a Assembleia os senhores:
Presidente José Davi; Vice-Presidente, José Mattar (Vice-Presidente); Diretor Financeiro, Sandro Sartorelli; Diretor Técnico, Ayres Augusto; Diretor Esportivo, Joubert Guerra Filho. Conselho Fiscal: Moacyr Mascarenhas e Oscar Bernardes. Suplentes Fernando Rebelo, Ivan Leste e Paulo Henrique.
Nesta data foi apresentado e votado o Estatuto do Trail Clube de Minas Gerais.
Em meio ao crescimento das atividades ao ar livre e à busca por novas formas de viver a natureza com intensidade, um grupo de motociclistas fundou, em 24 de julho de 1975, o Trail Clube de Minas Gerais (TCMG). A iniciativa marcou o início de uma nova etapa para o motociclismo mineiro, com foco na prática do trail — o motociclismo fora-de-estrada movido pela aventura, pela descoberta e pelo respeito ao meio ambiente.
Desde os primeiros encontros, ficou claro que Nova Lima se tornaria o território preferencial das primeiras trilhas. Com suas montanhas, matas fechadas, córregos e caminhos coloniais esquecidos, o município logo se revelou um cenário ideal para os pioneiros do trail em Minas. E entre as localidades mais frequentadas estava São Sebastião das Águas Claras — o hoje icônico “Macacos”, que já despontava como um verdadeiro paraíso off-road a poucos quilômetros da capital.
Entre as trilhas fundadoras, uma ganhou destaque e entrou para a história do clube: a trilha Predida, que dava acesso à antiga Fazenda dos Mendes, nos arredores de Macacos. Foi aberta ainda em 1975 pelo Sr. Joubert Guerra, então Diretor Esportivo do Trail Clube e um dos principais responsáveis pelo mapeamento e pela condução das primeiras rotas exploratórias.
A trilha, exigente e cercada de mata fechada, ficou conhecida entre os primeiros associados como uma prova real de habilidade e resistência. Segundo os relatos da época, trechos estreitos, subidas íngremes e travessias de córregos tornavam o percurso um desafio digno dos mais experientes — e, por isso mesmo, um verdadeiro rito de iniciação no clube.
O trail é uma prática diferente das modalidades tradicionais do motociclismo, como o cross ou o enduro. Não há competição direta, nem busca por velocidade. O desafio está no terreno, e o prêmio é chegar ao final da trilha — mesmo que isso leve horas de esforço coletivo. Em uma das primeiras jornadas, os fundadores partiram de Belo Horizonte, cruzaram Macacos, seguiram por Rio Acima e chegaram a Itabirito, totalizando 76 km percorridos em cerca de 10 horas. O que por asfalto levaria 2 horas, transformou-se em uma expedição por dentro da natureza e da história mineira.
Além da trilha Predida, outras rotas foram sendo abertas em Nova Lima e arredores: caminhos em direção à Serra do Curral, subidas desafiadoras nos arredores de Rio Acima, travessias por leitos de antigas ferrovias e passagens por vilarejos que pareciam esquecidos no tempo.
O Trail Clube de Minas Gerais nasceu como uma entidade sem fins lucrativos, voltada à valorização do motociclismo consciente e da convivência com o meio ambiente. Seus associados — em sua maioria jovens entre 20 e 40 anos — viam no trail uma forma de lazer, integração e expressão. A prática envolvia esforço físico, espírito de equipe, técnica de pilotagem e cuidado com os ecossistemas locais.
Com sede provisória em Belo Horizonte, o clube passou a realizar reuniões regulares, encontros de fim de semana e roteiros organizados. A região de Nova Lima, especialmente Macacos, foi e continua sendo o principal berço dessa cultura em Minas.
A fundação do Trail Clube de Minas Gerais em julho de 1975 representou não apenas o surgimento de uma associação, mas o início de uma cultura ligada à aventura sobre duas rodas, ao turismo ecológico e à valorização dos caminhos invisíveis de Minas.
Jornal Estado de Minas – 12/10/1975
O Trail Clube de Minas Gerais, entidade que congrega um grupo de motociclistas especializados em percorrer de moto estradas de terra e trilhas nas proximidades de BH, decidiu marcar a primeira prova de “trail”para o próximo dia 26 de outubro, ou, em caso de chuva, 2 de novembro. Esta prova será experimental, sem patrocínios ou prêmios, e seu objetivo será o de pesquisar todas as modalidades possíveis para se fazer uma competição de “trail” em BH.
O Trail Clube de Minas Gerais, tem como presidente José Davi Aguiar, e como diretor técnico Ayres A. A. Mascarenhas reúne hoje 15 interessados em competições de moto por estrada de terra e trilhas. As motos são de 125 cc e 250 cc. Esta prova do dia 26 de outubro deve ser uma mistura de “enduro”, interpretação de mapas, gincanas, “qualifiers”, rallye e “observed trial”. A comissão organizadora ainda não chegou a uma conclusão definitiva sobre como misturar tudo isso sem tornar a competição muito extensa e sem complicar o sistema de controle, segundo Ayres Mascarenhas.
26 de Novembro Interlagos – SP/SP
Veja como apoiar o Ecomuseu do Off Road para continuarmos a oferecer o melhor da história, conteúdos e eventos do universo off road do Brasil.